Porque sinto saudades da minha terra. Aqui é perto.
Mas, não tão perto. E não estou lá. A distância cultural é um abismo. O jeito
de se dar. De falar. De caminhar. O comportamento. É um país. Sou de outro
país. Me sinto estrangeira. Meu olhar de estrangeira. Meu olhar de
estranhamento. Muitas vezes tenta ser o olhar de compreensão. De entendimento.
Mas, há dias como hoje... que não tem jeito. A saudade pula em meu peito.
Grita. Sou de lá. É perto, mas é distante. Não posso ir lá dar um mergulho no
mar... o mar! Saudades de virar a esquina e ver o mar. De fazer o trajeto pela
orla. E ver a onda arrebentar na praia... derrubar surfistas. Sentir o cheiro
de mar arder o nariz de tão forte, tão forte... lacrimejar os olhos. E tem o
acarajé também. Mesmo não comendo todos os dias, mas está lá. À disposição. Tem
o Rio Vermelho que várias pessoas se encontram. É o esquente para o que vem
depois e se não vier, sem problemas. Fica ali mesmo. Na boa. De boas. Ô garçom,
na moral, dê um grau aqui na mesa. É como falamos. É nosso sotaque. É nosso
sorriso. E tem o trânsito também. Diferente. Outra dinâmica. Tem a cidade que
por si só tem outro desenho. É Alta. É Baixa. É Meeira. Tem ladeiras. Becos.
Vielas. O calor humano é diferente. É outra densidade. É mais misturado. É heterogêneo.
É plural. Busco aqui alguma relação, mas a cidade teimar em se distanciar. Tem
uma ojeriza gritante. É uma pena... só ganharíamos. Minha cidade tem um ritmo
diferente. Pulsamos em outra batida. Temos mais cor. Nos mostramos mais. Damos
mais visibilidade ao nosso corpo. A nossa cor. E tudo que ela tem. Tem a
cultura forte. As músicas que exaltam à terra. Como se a todo momento
tivéssemos que celebrar por sermos da terra. Mesmo quando não temos motivos
para celebrar. Mesmo quando temos motivos para sermos tristes. A música está
lá. Vibrando. Exaltando à terra. Nossa cor. E nossa condição. Temos uma
irmandade inexplicável. Nem sabemos quem é, mas se é da Bahia... é nosso. É um
outro olhar. Temos orgulho. Acreditamos. Festejamos. Vibramos. É a forma de se
dar. De se apresentar para o mundo. De se inserir. De fazer parte. E de
interagir com ele. O mundo é feito por nós. É bem isso. Ou não também.
Tenho certeza de nada. Tirando a saudades que sinto... tudo parece muito
frágil.
terça-feira, 12 de julho de 2016
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2 comentários:
Tem a paisagem da contorno e os contornos do Bonfim... Mas falta minha Poetinha linda!
Realmente, Pedro Laurentino, em nossa terra tem de tudo de beleza um pouco, mas falta a nossa Poetinhola linda! Ainda bem que a escrita nos faz dar as mãos!
Ainda há pouco dizia que sinto saudades de ti e você me vem com essa.
Apareça por favor'♡
Te amo e muitos beijos vermelhos pra você!
Ler este texto me fez recordar!
Obrigada sempre, Pô.
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