quinta-feira, 23 de setembro de 2010

(...)


quero te falar e é urgente ei, escuta! mesmo que você não pare para ouvir o tempo passará porque o tempo é urgente e passa rápido enquanto falo, você escuta e ao mesmo tempo ajeito a calcinha estou sem palavras, mas preciso te contar toda a minha vida em um dia um só dia o chuveiro pingando me deixa nervosa e não consigo dormir tenho tanta pressa e não consigo perceber o quanto a vida passa quero o tempo de criança! gostaria de escrever sobre tudo que há no mundo mas, o tempo não deixa quero escrever sobre o que há no momento os sentimentos a textura das flores que acariciam seu braço enquanto as carregam o seu olhar que pede sempre mais do que suas palavras ponderadas oh, tudo está tão confuso e revirado não entendo e a vida continua acabando enquanto falo e você não escuta estou sempre dando festas para cobrir o silêncio parecia haver diversão nisso por muito tempo quero dizer que me mantenho viva apenas para satisfazer a minha escrita é tão urgente! como não vê a urgência? olha, ela está aí, andando pelas ruas já é tarde e não consigo dormir, porque quero te falar veja o sol ferver no ar sinta o vento em sua pele e deixe os cabelos ao léu não escuto, enquanto você tenta falar que não há urgência pisco os olhos e bato o portão você observa tudo pelo retrovisor sinto agonia olhando o ponteiro da cozinha ah, my honey, é urgente sim! porque o tempo passa e a vida acaba rápido não importa o que já escrevi e o que já falei há muito, ainda, para ser dito e escrito e não conseguirei dar conta de tudo Já é tarde (e eu nem comecei) e é muito curto não tem como empilhar minutos, segundos... eles vão, simplesmente enquanto retorno para buscar o casaco escuta, estou no lugar a que pertenço, mas não queria estar estou cercada de pessoas para cobrir a solidão não posso dizer quem sente nem quem é sentido o instante passa, mas desconfio que a dor que não passa e dói fundo no peito o tempo passa por mim como um qualquer quero falar a você num só fôlego e depois calar calar para sempre emudecer! enquanto falo, você escuta e ao mesmo tempo perambulo entre o quarto e o banheiro retocando o batom ainda quero falar a você, mas preciso sair enquanto falo, abro a porta e bato o portão não vou trancar, volto logo você não tem a chave urgente ganho a vida, a rua, a esquina há tantos caminhos e pouco tempo para caminhar