domingo, 23 de novembro de 2008

(...)

Eu ouvi um burburinho. E fui tentando acompanhá-lo. Não conseguia ouvi-lo com clareza. E quando estava quase conseguindo ... ele se transformou num sussurro. Era tão baixinho que mal conseguia ouvi-lo. Mesmo assim tentava não ouvir os outros sons. Os sons externos estavam altos. Eu tentava não me dispersar. E aquilo estava cada vez mais baixo. E eu num louco desespero. Correndo atrás daquela voz. Ou daquelas vozes. Às vezes pareciam muitas vozes. Às vezes só uma. O silêncio que pedia fora não fazia festa em mim por dentro. Era difícil silenciar-me. Há tantas vozes dentro de mim. Eu preciso silenciá-las para não perder o sussurro. Eu por dentro sou um turbilhão de sons e sentimentos que explodem a cada piscar de olhos. E quase estava o burburinho. Silêncio! Eu estava perdendo uma guerra para mim. E o medo de perder aquele som me causava desespero. Sentia que estava perto. (E realmente estava perto, mas não pude perceber). Continuava minha busca incessante. Aquelas vozes. Aquela voz. Que não saía de dentro de mim. Enlouquecia-me. Não conseguia saber sobre o que falavam. Sim, estou perto. Estou quente. Só mais um pouco. Um passo a mais e tudo muda de lugar. Não posso voltar o tempo não voltar. Devo seguir. Não posso desistir. Fui entrando. Agora já conseguia ouvir o burburinho com clareza. Queria fazer parte daquilo tudo. Queria sussurrar também. Só me resta abrir a porta. São muitas chaves. E muitas portas em minha frente. A chave caiu da minha mão. E de repente todos se calaram e eu perdi o burburinho...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O que sinto...

O sentimento que trago no peito e que trago em doses lentas todas as manhãs é desconhecido. Eu não sei o que sinto. É indescritível. Por mais que eu tente escrevê-lo e descrevê-lo não consigo. O meu discurso torna-se vazio quando não consigo expressar o que sinto. O sentimento é a mola do ser humano. É o sentimento que o eleva. É o sentimento que o desespera. Se eu não sei o que sinto me componho de vazio. Às vezes acho que quero impor limites. Definir o que sinto é limitá-lo, o que sinto é tão vasto que me devasta por inteiro, porque eu inteira sou sentimento. Isso que estou dizendo sobre sentimento já foi dito. Eu o repito, porque minha repetição revela algo de novo mesmo quando reforça uma idéia anterior. Eu digo o que estou dizendo, mas que outras pessoas já disseram. Esse texto é o meu jeito de (re) escrever essas coisas que já foram ditas. Por isso me repito, pois o que revelo é novo. Novo e diferente. Eu não sinto, aliás, sinto, mas não sei dizer o que é. O sentimento que tenho em mim é avassalador e eu quero abarcá-lo. É algo novo, mas às vezes tenho a impressão que ele já foi sentido antes. Os sentimentos se repetem sim, apenas se vestem de outra maneira para que possamos achá-los inédito. Estamos sempre buscando estréias. E com isso nos repetimos o tempo inteiro. Como eu nesse texto. Eu apenas penso que aquilo que digo é inédito e que é a idéia mais original e única. Mas no fundo do texto eu sei que me repito a cada palavra. E repito tudo o que já disseram antes. A mulher se fez verbo antes de mim. Meu discurso inédito, já se repetiu antes mesmo d’eu me fazer verbo. Não saber o que sinto, me aflige. Me sinto perdida. Sem lugar. Eu não pertenço ao meu lugar. Não pertenço a ele, porque me perdi diante de tudo que sinto. O que sinto me devasta, perfura-me a alma. E logo eu que sou tão casta, tenho minha alma devastada por algo que eu nem sei descrever. Só consigo sentir. Sinto o sentimento meu. Gosto de me colocar no lugar do outro para sentir o que ele sente. E assim sentir mais e quanto mais eu sinto, mais perdida me torno. Minha alma sente um sentimento profundo perfurando-a duplamente. Eu apenas quero dizer isso, mesmo que isso já tenha se revelado. Esse meu texto é uma conversa minha. No momento em que ele está aqui não me pertence mais, pertence a você a sua leitura. A partir dele você escreve o seu texto. Eu queria somente contar a você tudo isso que estou escrevendo, mesmo que você já saiba de tudo. Esse texto é uma conversa de mim para você. O meu discurso monólogo é um desdobramento de mim para ti. E a partir desse momento, esse vasto texto perdido entre tantos sentimentos não me pertence mais... assim talvez como aquilo que eu nem sei o que sinto...