O entardecer é tão perturbador. Não é dia. Nem
noite. É a transição. Entre um e outro. E aí posso sentir toda a angústia. A
angústia em seus olhos. Seu corpo magro. Delicado. Frágil. Sim, era muito
pesado. Você não suportaria. Também não suporto. Ainda continua pesado com a
sua partida. A angústia deixa tudo confuso. É preciso ter clareza para
enxergar. Mas, a angústia não permite. Ela embaça. Como vidro de carro em dia
de chuva forte. É preciso ter olhos atentos. Mas, às vezes, não queremos. A
realidade dói. E não sabemos como lidar com a dor. É uma aflição. Uma agonia.
Muitas vezes, preferimos ter lentes embaçadas. Dói menos. Não queria gostar de
você. Era muito óbvio. Que você iria se despedaçar a qualquer momento. Invejava
sua coragem covarde. No fundo, no fundo, sabia. Sempre soube. Que iria amá-la e
odiá-la na mesma proporção. Nosso medo da realidade nos aproximava. E nos
distanciava. Vamos avante. Desistir é covardia. É preciso muita coragem para
desistir antes de chegar lá. Aprendi que muitos sentimentos vêm disfarçados de
amor. Seus berros eram ensurdecedores. Com vendas não enxergávamos. Uma vida de
provações. Pathos é enlouquecedor. Enlouquecidas somos. Não são esquisitices.
São sentimentos que se encontram e extravasam. Que lá fora causam
estranhamento. Ser feliz é desconfortável. Como poderia defendê-la daquelas
lentes tão brilhantes. Que não permitiam que enxergasse? Que turvavam a
realidade? Como nos defender daquela violência. Uma simples fotografia é tão
obscena. E todos aqueles comentários. Interpretações tolas. Deduções. Como
escapulir daquilo? Como escapar da lucidez? Qual seu escape? A realidade é tão
insossa. A fantasia é sedutora. Experimentar a liberdade. Pode nos deixar
desnorteadas. Desesperadas. Ávidas por mais. Pode ser viciante... daí começamos
a nos flagelar. Mas, quis arrancá-la dali. Tínhamos uma percepção tão profunda
e íntima. Respeitei. Acatei até que... fiquei muda. Quem vai gritar nossa dor?
Ray? Sarah? Mr. Hathaway? Frank? Às
vezes, a morte faz mais sentido que a vida. Estamos sempre morrendo um pouco a
cada dia. Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
P.S.: Para terminar esse texto tive o auxílio luxuoso do Poeta Lindo, obrigada!
Um comentário:
Adorei participar, adorei ler em primeira mão, adorei o texto! Amy é um pouco da nossa própria juventude, essa energia que se perde massacrada pela vida. A vida bate, diz o poeta. A vida bate forte, mas por enquanto é tempo de morangos! Beijo, Dinda!
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