terça-feira, 19 de julho de 2011

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Ouço meus olhos longes demais. Entendo quando querem fugir. Nem sempre eles atentam para minha necessidade. Vejo minhas palavras voarem pelos mares. Molhadas, bóiam densas. Rasuram o que tento escrever. Palavra dita é traída pela memória. Minha lembrança está à deriva. Escrevo. Mas estou sempre à procura dos detalhes. Escrevo para descrever os detalhes que se perdem nos sentidos. O que escrevo é apenas mais uma pré-montagem da próxima escrita. Reescrevo-me a cada segundo. Tento (re)encontrar o que sou. Sou mais um retrato de uma mulher perturbada do novo século. Sou uma úlcera pós-moderna. Carrego a angústia em meus olhos. Perdidos, vagueiam distantes. Sou mais uma esfarrapada. Meu corpo estropiado carrega as esporas que o tempo deixa. Passo e carrego suas marcas. Não permaneço, pereço. Sou como uma palavra ao vento, não retorno. Uma vez lançada, lançada. Uma lágrima rala e a outra faz arder. A terceira ressuscita a dor. Não adormece. Minha vida é provocada pela escrita. Passa e se instaura nela. O que escrevo é minha experiência de passagem. Tento escrever os rastros que meus olhos ouvem. O sentido da palavra está na produção do texto. Quero significar a palavra do dia-a-dia. A palavra cotidiana é invisível. Fala-se apenas, sem reflexão. Meus olhos voam longe demais e carregam minhas palavras. Não consigo alcançá-los. Chamam por mim, mas permaneço a deriva...