quinta-feira, 26 de julho de 2007

Eu quis ser Macabéa.

Para Enna pela assiduidade.

Quando eu li “A Hora da Estrela” eu desejei ser Macabéa, e eu fui, por alguns instantes fui Macabéa com toda sua doçura. E me senti tão forte e vulnerável, ingênua e desvirginada. Me senti impura de sentimentos, eu quis comer Olímpico, eu quis devorar Glória.
Eu quis me comer para me conhecer e descobrir quem era eu por trás daquele nome, por baixo daquela roupa cheia de pudores. Eu quis me comer para me descobrir toda, por inteiro.
Eu me sentia com uma força inabalável, mas sentia o olhar penoso que as pessoas lançavam sobre mim, mas eu não me envergonhava disso, eu gostava daquela piedade, no fundo essa piedade deles era a minha grande vingança. Intimamente eu ria disso tudo e aproveitava bem toda a situação. Eu me sentia feliz e realizada com o sofrimento de Rodrigo S.M. saber que ele estava sentindo aquela dor dente infernal enquanto descrevia a minha vida, aquilo para mim era o máximo, meu clímax, meu ápice.
Eu chorei ouvindo músicas que não entendia, eu repetia coisas que não compreendia, eu desejei envenenar as três Marias e dançar alegremente depois. Eu queria mais, eu queria ter morrido de tuberculose, eu queria sofrer, eu tentei amar, eu menti, eu fui demitida e me fiz de desentendida e santa.
Eu tomava remédios para não sentir dor, nem sabia o que era dor.
Minha Tia foi uma inútil na minha vida, se eu pudesse voltar no tempo eu diria para ela me deixar em paz, me deixar ser livre. Maldita Tia me transformou numa Macabéa simples, simplesinha. Eu que nasci para ser a Macabéa, a única, a verdadeira e fui transformada num lixo ambulante.
Mesmo assim eu amo ser o que o sou, eu amo ser essa mulher burra, não amada, sem expectativa, sem futuro e com a morte batendo na porta.
Aquela Cartomante, bendita Cartomante que me abriu os olhos e me mostrou um mundo colorido, com realizações, pena que acabou rápido, mesmo assim quero dizer que sou agradecida aquela Cartomante até hoje, porque ela me mostrou o mundo num segundo, eu viveria toda a minha vida e nunca iria descobri-lo.E aquele gringo naquele carro lindo, ainda bem que ele acabou com a minha vida em um segundo. Eu jamais poderia viver com aquele homem por mais que eu quisesse acreditar que ele era o homem da minha vida, eu sabia no fundo que o meu homem era Olímpico e sabia ainda mais, sabia que nasci para ser só e que não teria homem. Naquele exato instante que o carro bateu em mim e eu bati a cabeça na calçada senti que minha vida mudaria, senti que terminaria ali minha vida assim como começou sem sentido, pode ter certeza que naquele instante em que morri eu fui à mulher mais feliz do mundo, porque eu morri conhecendo e perdendo o homem prometido que me faria feliz.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Eu não estou conseguindo escrever


Eu queria muito, muito mesmo escrever, mas no momento não estou conseguindo. Se no primeiro post eu quis escrever sobre tudo imagine agora que nem sobre o nada eu consigo escrever. Enna, querida amiga, vou ficar te devendo mais essa, disse que escreveria uma coisa para você ficar mais feliz, mas não estou conseguindo. As palavras estão brincando comigo de esconde-esconde e eu não consigo encontrar o esconderijo delas. Imagino o quanto elas estão rindo de mim, mas a vida é assim. Quando encontrar com elas, serão minhas prisioneiras até quando eu cansar e soltá-las novamente.
Por hora é só pessoal. (Até o próximo post com vontade de escrever)

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Adélia Prado (Linda!)




Janela

Janela palavra linda
Janela é o bater das asas da
borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora,
monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta,
por onde vi o casamento da Anita esperando neném,
a mãe do Pedro Cisterna urinando na chuva,
por onde vi meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela,
brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração.