segunda-feira, 28 de abril de 2008

Meu Ofício

Quando sento para escrever um poema. Sento com tudo que há em mim. Com toda emoção. E sentimentos. Com toda dor que trago comigo. Meu coração sangra. Sangra com emoção. Sangra com toda força que ele tem. Meus dedos finos, frágeis e calejados. Escrevem tremendo de dor. Meus dedos gemem de dor. Minha mão dói. Chega a sangrar. Os dedos fraquejam. O lápis cai. A ponta quebra. O papel mancha. Recomeço. Meu trabalho é árduo. Começa e recomeça. É um trabalho sem fim. Eterno enquanto eu viva. Ou eterno pelas mãos de outro. Ou ainda eterno pela leitura de outro. Um trabalho que não acaba. Enquanto houver vida. Sentimentos. E emoções. Um trabalho que cansa. Um trabalho de transpiração. Inspiração. Pulsação. Meu coração sangra a cada batida. Sangra a cada pulso. Um verso bem escrito. E lá vem lágrimas nos olhos. O coração pulsa rápido forte. Tudo é uma dor. Um sofrimento doloroso. Às vezes o poema vem inacabado. Outras vezes pronto. Outras vezes não vem. Nas vezes que não vem, meu sofrimento é maior. Eu sofro calada. Quem sofre em silêncio sofre mais. Calada eu sofro o sofrimento maior do mundo. Sofro mais e melhor. Sofro o vazio. A ausência do verso. O sofrimento me enlouquece. O vazio me apavora. Silêncio. Palavras evaporam no ar. Meu trabalho continua. Contínuo...

sexta-feira, 4 de abril de 2008

História de Amor n° 01: A Prima e o Primo

Essa não é apenas mais uma história de amor, essa uma história de encontros e desencontros, de amor e desamor. Essa é uma história de uma vida, de um amor. Fala não só de amor, fala da não comunicação, fala da espera, da paciência, de fidelidade e de algo muito mais forte que o amor, talvez, o próprio amor.



A Prima(1) se apaixonou pelo Primo(2) antes mesmo de começar a falar. Ela era uma garota muito faladeira, alegre e às vezes um tantinto chatinha. Ele, bem ele, não sei como era, aliás a única coisa que sei é que ele não era pequeno, mas como conheço a Prima, posso imaginar que ele era bem legal e que a fazia sorrir. Os homens naturalmente gostam das mulheres que sorriem de suas piadas, mas esse é o tema de outra história.

A Prima apaixonada passava as férias e os finais de semana prolongados na casa dos seus Padrinhos que por coincidência ou não eram os pais do seu querido, amado e idolatrado Primo. Um belo dia o Primo olhou para a sua Prima Apaixonada e disse: “Não se afobe, não, Que nada é pra já, O amor não tem pressa, Ele pode esperar em silêncio, Num fundo de armário, Na posta-restante, Milênios, milênios, ... Amores serão sempre amáveis, Futuros amantes, quiçá, Se amarão sem saber, Com o amor que eu um dia, Deixei pra você.(3) Ele não disse isso, assim com essas palavras, mas se dissesse, ela não se conformaria em ter que crescer. O que realmente ele disse foi: - Vou esperar você crescer. E deu um beijo na Prima. Os olhos de jabuticaba da Prima brilharam intensamente (igual quando se tem uma revelação). Aquilo bastou. Ela acreditou naquilo como se acredita na vida.
O tempo foi passando e a Prima foi crescendo.
Um belo dia de sol e céu azul a Prima retorna do colégio, entra em casa falando sem parar e dá de cara com o Primo que diz: Eu disse que iria esperar você crescer. Depois de proferida a sentença eles passaram o resto do dia conversando.
No outro dia eles já estavam namorando há muito tempo, sabe quando você acaba de conhecer uma pessoa e tem a sensação que aquela pessoa sempre esteve ao seu lado, então era assim que eles se sentiam. Entre cinemas e beijinhos, pizzas e mais beijinhos, o tempo foi passando e o relacionamento foi ficando cada vez mais sério, o que era um namoro de adolescente entre primos e sem futuro, estava se transformando numa bela história de amor.
A Prima muito inteligente terminou seus estudos bem cedinho e logo começou a trabalhar, mas o Primo apesar de ser lindo e fazê-la sorrir era bem machista como todo homem bom deve ser. E pediu, implorou e suplicou para a Prima sair do emprego, porque o trabalho dele sustentava os dois. Bonito isso, isto é, realmente profundo. A Prima que era muito esperta foi enrolando até o dia que ele falou que queria casar e como ele trabalhava num Banco e em outra Cidade pediu que ela fosse morar com ele. A Prima respondeu ao seu amado que era muito cedo para eles casarem.
O relacionamento foi esfriando, o Primo foi ficando distante, até o dia que o Primo sumiu. Esse é o momento mais bonito dessa história, é o momento sublime, esse é o meu momento, é o momento de escrever poeticamente o que a Prima sentiu, esse momento é tão bom que merece até um parágrafo.
Com o sumiço do Primo, a Prima apaixonada fica doente, doente de ausência, doente de saudades, doente pela falta do beijo, sentia febre e um frio intenso, imenso era a falta de algo que já estava inerente nela e ela nem tinha percebido, não conseguia comer, seus olhos ficavam fechados para não ter certeza, as lágrimas saíam dos seus olhos como a jabuticaba cai da jabuticabeira quando está madura, sem sentir, aquilo já fazia parte de sua vida, aquele sofrimento foi inevitável, a Prima estava doente de amor.
Era primavera e a Prima tinha voltado a sorrir, o que os olhos não vêem o coração não sente, então a Prima pensava: “De hoje em diante Eu vou modificar O meu modo de vida Naquele instante Em que você partiu Destruiu nosso amor (4) ", o Primo era uma página virada e era, até o dia que ela recebeu a visita de sua Prima que ostentava um lindo anel de noivado e alguém muito curioso perguntou a Prima noiva: - Você está noiva? E a Prima Noiva Boba respondeu: Estou noiva sim, eu e o Primo ficamos noivos vamos nos casar. A Prima apaixonada ouve aquela frase que desce secamente em sua garganta e seus olhos de jabuticaba já marejados ameaçavam o choro, mas antes da lágrima cair, ela disse: “Agora não vou mais chorar Cansei de esperar De esperar enfim E pra começar Eu só vou gostar de quem gosta de mim (4.1). A Prima pegou o telefone e ligou para um antigo Pretendente e disse: - Eu aceito namorar você. E assim foi feito.
A Prima e seu Pretendente começaram a namorar, ele não era exatamente um Primo, mas há de se fazer o quê, são as coisas da vida, quem não tem gato caça com cão. Ele era um homem bom e deveria fazê-la sorrir, isso é o mínimo que os homens devem fazer as mulheres.
Chega o grande dia, o dia do casamento dos Primos, a Prima não queria ir, mas seu Marido (sim, ela casou com seu Pretendente) insistiu, não via motivos para não ir e eles foram.
Esse momento é tão lindo, tão lindo, que me faltam palavras para traduzir os sentimentos envolvidos ali naquela cerimônia, que selaria o destino dos Primos, novamente preciso de um parágrafo e um gole de fôlego.
O Primo passou a cerimônia toda de costas para o altar e de frente para sua Prima, a sua verdadeira Prima, o seu grande e verdadeiro amor. Penso que ali naquele momento ele deve ter pensando na grande besteira que havia cometido (e estava cometendo), na grande injustiça que ele havia feito (e estava fazendo), mas os homens são assim. Agem primeiro, pensam depois. Os olhos de jabuticaba da Prima brilhavam intensamente envolvidos por uma camada de lágrimas. Eles se olharam, se falaram pelo olhar. E aquilo bastou.
Após aquele dia eles não se viram mais, a Prima após alguns anos separou-se do Marido e soube que o seu Primo tinha ido morar em outro Estado e mais tarde também soube que ele havia se separado da Prima. Não tiveram mais contato.
Só em contar essa história foi o suficiente para a Prima ter uma noite sem sono entre sonhos e olhos abertos, só o som de sua voz foi o suficiente para despertar todo o amor no coração da Prima, só a leitura dessa história foi o suficiente para emocionar os olhos de jabuticaba. E só o amor poderá ser suficiente para refazê-la feliz.



Notinhas de rodapé

(1)
O nome da Prima é segredo, não conto nem sob tortura.
(2)
O nome do Primo eu poderia até revelar, mas a Prima me pediu e eu não conto, porque sei guardar segredo direitinho.
(3)
Trecho da música, “Futuros Amantes”, do lindíssimo Chico Buarque que na voz de Gal Costa é sublime.
(4) e (4.1)
Trechos da música, “Só vou gostar de quem gosta de mim”, uma composição Rossini Pinto segundo vários sites que esqueci quais foram e que é muito linda quando cantada por Eliana Printes.