sábado, 19 de março de 2011

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Os meus olhos vêem coisas que não posso tocar. Tateio pelo vento com o sentido perdido. Não posso perder o sentido. Preciso da lucidez. Ter olhos lúcidos, atentos e curiosos. Perde-se tudo quando a mente se perde. Não posso perder. As linhas que emaranham a minha escrita criaram um labirinto em que estou presa. O meu olhar meio perdido está atento ao ínfimo detalhe. Esse é o meu olhar diferenciado e mais amplo sobre a realidade. Minhas mãos são calejadas pelas palavras que uso para reinventar a realidade. Sei o que é real. Conheço a realidade. Achei que poderia suportá-la, mas um dia descobri que não posso. E foi a partir daí que reinventei todas que sou. Eu sou uma ficção baseada em fatos reais. A cada instante vivo um personagem. Minha vida é um ensaio. Quero borrar a linha entre a realidade e a ficção. Assim como os meus casos amorosos borrados. Todos foram um grande borrão. Aprendo mais quando sinto. Escrevo com o olhar do todo, da paciência. Escrevo para contemplar as palavras que surgem. Uma a uma. Escrevo devagar e num fôlego só. O som da máquina de escrever embala as palavras que brotam no papel. Cada batida na máquina é sentida pelo meu avesso. Um som que me aproxima da escrita. Como descrever o primeiro beijo? O sentimento daquele instante. A textura da sua língua na minha. As mãos suadas. Os olhos entreabertos. A respiração ofegante. Sua saliva quente com a minha fervente. Escrevo para tocar e nomear aquilo que os meus olhos vêem.

quarta-feira, 2 de março de 2011

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Eu gosto de saber das coisas. São tantas coisas para  saber quando se é adulto. Os segredos que as pessoas não contam. O motivo da sua tristeza ou da sua alegria. Gosto de observar enquanto você dorme para tentar saber o que sonha. Gosto de saber os motivos. Mas, os motivos não justificam as ações.  Gosto de saber o que acontece com a formiga quando chega a seu formigueiro com uma folha gigante. Gosto de saber o que acontece com a pessoa que está ao meu lado. Se está bem ou triste. Ou apenas indo. Gosto de saber das coisas.  E por que elas acontecem. Gosto de ter o controle. Eu tinha o controle, mas o perdi. E preciso recuperá-lo, porque as coisas já foram longe demais. Não posso perder tempo catando o que está por aí espalhado, mas é preciso juntar tudo e seguir. Às vezes sinto como se estivesse andando em câmera lenta e tudo ao meu redor está rápido demais. Tento acompanhar e não consigo. Não consigo acompanhar, porque estou presa. Tenho que desprender e caminhar. Serei livre. Não sei se quero ser livre. O bom de estar preso é que a culpa não é sua. É bom ter alguém para culpar. Ruim é dormir a noite com a lucidez infernizando seus sonhos. São tantas coisas para saber quando se é adulto. Eu gosto de saber sobre os sentimentos dos outros. Gosto de ouvir como se sentem. Ouvir suas histórias de desamor. Todos que conheço têm uma. Eu coleciono várias. O amor me maltrata nos dias de sol e chuva. E faz-me padecer em dias acinzentados. Sou uma pessoa curtida no desamor. Se for para chorar, entro num lençol e choro até a garganta doer. Até os olhos fecharem de tão inchados. Gosto de imaginar o que as pessoas pensam. E se seus pensamentos são tão bons como suas palavras. Gosto de imaginar as coisas. Gosto de aprender sobre as coisas. Não quero dizer a coisa errada, o que acabo fazendo, por isso, escrevo. Acho que me saio melhor quando escrevo. Há muito que dizer por ser um adulto, mas eu nunca quis crescer.