quinta-feira, 21 de junho de 2007

Eu quero escrever


Uma folha em branco é algo tentador para quem insiste em escrever mesmo sem saber para quê escreve ou por que escreve. Eu aqui sentada parada, patética, pensativa, penso que posso escrever tudo o que eu quiser e até o que eu não quero eu posso escrever. Milhões de idéias surgem ao mesmo tempo em minha cabeça. Meu lápis com a ponta mal feita não consegue acompanhar o ritmo das minhas idéias. Elas vão e vêm num entre e sai que me deixa louca e extremamente excitada. Posso escrever sobre o meu amor mais que platônico por Clarice Lispector, mas do que adiantaria ela me deixou antes mesmo de eu vir ao mundo e dizê-la o quanto eu a amava. Então escrevo sobre o meu amor, o meu amor que sinto lindo, verdadeiro e forte e que me deixa chateada todas as manhãs, porque nunca acorda cedo. Posso escrever uma poesia para meu amor, mas agora o que quero é escrever agora eu ainda não sei. Quero muito escrever sobre os calos que tenho nos dedos de tanto escrever, mas o que eu mais quero é ter realmente esses calos, senti-los doer bem forte e não tomar remédio para aliviar a dor, porque o que importa mesmo são os sentimentos. Eu gostaria de escrever bastante com os meus calos, gostaria de senti-los sangrar bem forte e manchar todo o papel com o meu sangue e minhas letras. Escrever revoltada com a dor, tão revoltada quanto Rodrigo S.M. e sua dor dente, eu sentir aquela dor dente dele em mim. Eu quis acabar com Macabéa o mais rápido possível para acabar também com a minha dor. Eu quero descrever como eu sinto o mundo, como me sinto diante dele e o que é que estou fazendo aqui. Quero escrever sobre a viagem deles a França e como foi lindo vê-los casando. Eu quero escrever sobre o meu Amorzinho e o quanto é importante vê-lo crescendo e ainda não multiplicando. Eu quero escrever sobre os maiores amores do mundo e o quanto eles são importantes em nossa vida. Eu quero escrever sobre meus irmãos o quanto somos diferentes e o quanto isso é importante para nós sermos irmãos. Eu quero escrever sobre tudo que aprendi na Faculdade o quanto àquelas aulas chatas são importantes depois que passamos por elas, na hora estamos tão envolvidos que não percebemos nada. Eu quero escrever sobre todos aqueles que conheci, mas são tantas pessoas. Eu quero escrever sobre o avião que não chega na hora certa, eu quero escrever sobre Vinicius de Moraes e o quanto eu aprendi com suas poesias e seus sonetos, eu quero dizer que amo Fernando Pessoa, eu quero dizer que chorei quando descobri que Florbela Espanca já tinha morrido, eu quero escrever sobre o medo que sentir quando soube que Ana C. suicidou-se no dia do meu aniversário, mas que eu procurei entendê-la, eu quero escrever sobre o choro que engoli quando Cássia Eller morreu, eu quero escrever sobre a alegria que me toma quando ouço Zélia Duncan, eu quero escrever sobre Carlinhos Brown e o quanto ele me deixa feliz quando canta “Samba da Bahia, Samba da Bahia, Ê Maria Nega Tetê”. Eu quero escrever o quanto sou feliz por ter nascido na Bahia de Caetano Velloso, de Gilberto Gil, de João Gilberto, de Ruy Barbosa e de Daniela Mercury. Eu quero escrever sobre o quase, eu quero escrever sobre o talvez, eu quero contar as minhas dúvidas, eu quero escrever sobre o sentimento que me toma quando escrevo, o quanto me sinto viva e importante com o lápis na mão, eu quero dizer que sou feliz, eu quero escrever algo que ainda não disse, eu quero escrever sobre tantas coisas, mas a ponta do meu lápis quebrou.