Como fechar os olhos diante à brevidade da vida? Vivo e é
urgente. Luto para me manter acordada e lúcida. Não desfocar. Não perder os
sentidos. E nem enlouquecer dentro da minha lucidez. Quero viver plenamente
cada segundo. Piscar os olhos rapidamente. Ligeiro. Não perder tempo. Mas, não
deixar escapulir nada. Ter olhos atentos. Mirar no zumbido da mosca. Não perdê-la
de vista e reparar tudo a sua volta. Durmo pouco. E acredito que posso dormir
menos. Principalmente, quando não sonho com o que desejei. E o pior quando não
lembro do sonho. Preciso fazer um pedido, mas ainda falta tanto. Talvez não falte...
a vida escapa diante dos olhos. Às vezes, quando viramos à esquina. Quero entender
o que há entre a respiração e expiração. E o que há a direita, quando olho à
esquerda. O que acontece atrás de mim, quando caminho à frente? Mas, como é
mesmo que termina aquela história que ouvi no ônibus? Como não ficar ansiosa
diante à velocidade da vida? Gostaria de zelar por todos aqueles a que tenho
apreço... oh, como vocês se espalharam tanto por aí? Nem percebi que pegamos caminhos
diferentes para seguir à estrada da vida. Por isso, não posso mais esperar e
tenho de fazer um pedido. Mais que isso preciso ordenar: se cuidem! Mantenham-se
atentos e cuidado, muito cuidado. Não se distraiam, não se inebriem demais com
a felicidade. Mantenham-se lúcidos! Mantenham-se vivos. Dito isso posso
continuar. Quando tomo um sorvete me entrego totalmente a ele. Mas, não deixo
que a felicidade me tome inteira. É preciso vigiar a felicidade. Muitas vezes,
a felicidade é traiçoeira. Deixar a vida quando se está feliz é cruel com quem
fica. A orfandade de quem fica dói, dilacera. Por isso, se cuidem. Me cuido. Tenho
o caminhar apurado. E o olhar ligeiro. Não quero perder o vigor da vida num átimo
de felicidade irresponsável. Deixar a vida com vigor de vivê-la por um século é
tão brutal. Preciso não perder a lucidez... como não perder os sentidos quando
se está à beira da vida?
domingo, 23 de outubro de 2016
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Quem me vê
Até quem me encontra na fila da padaria
sabe que tenho um amor. Quando saio e passo desviando dos faróis. Que abrem
caminho... Sigo amando. Motoristas sorriem. No fundo sabem que tenho um amor e
que me espera chegar com o pão quentinho. O porteiro do prédio. A vizinha. O cobrador.
As crianças na praça. O moço que vai de bicicleta. A garota que faz caminhada. Sim,
sabem que tenho um amor. Carrego amor nos olhos. Espalho amor por onde passo. Sorrio
leve. Ando macio. O amor faz meu coração dar cambalhotas. Aprecio seu cabelo
dourado. Seus pés estão sempre frios à noite. Aquecemos. O moço da oficina. A moça da clínica. Caminho entre
eles e o amor me carrega. Quando você sai me afogo em saudades. Fico triste. Amuada.
Quando você abre a porta traz o sol. A casa fica cheia. Meu amor transborda. Meus
olhos reviram. Quero alcançar você na esquina. Ver seus olhos deslizarem na rua
e encontrar os meus. Minha caminhada floresce amor. Quando saio do trabalho... A
moça da recepção. O rapaz que cruza comigo. A senhora. O vovô com sua neta. A mulher
grávida... todos sabem que estou voltando para reencontrar meu amor. Os meus
olhos dão piruetas apaixonados. Deixo um pouco de amor por onde passo. As pessoas
sorriem para mim. Somos cúmplices. Todos sabem que tenho um amor. Feliz, ando
pela vida. Um deslize. Um descuido... lá estou amando mais. Muitas vezes, você
toma meus pensamentos. Fico horas amando. Transbordo amor. Gosto de sentir seu cheiro dentro de
mim. Bailamos amor. Um cisco em meu
olho. E você sopra amor. Até quem conversa comigo. Pede uma informação. Os alunos.
A moça da TV. A apresentadora do jornal. A atriz. O ator. Quem me olha pela
janela. O personagem do livro que leio... sabem que tenho um amor. Que vivo uma
primavera infinita. E que a chuva quando cai adoça nosso amor. A moça do açougue
sabe. A caixa do supermercado sabe também... que tenho um amor. Que me faz bem.
Que à tarde quando nosso olhar se encontra. Procuro a palavra exata para
traduzir o amor que sinto. O amor, meu amor, é indizível. Em beijos. Abraços. Enquanto
corto sua unha. Faço o seu café. Quando me emociono em seus olhos verdes. E me
desmancho em seu riso largo. A primeira vez que vi você... O amor me deu um
solavanco. E quis conhecer todos
os seus cantinhos. O amor rasgou meu peito. Os manuais. O amor fundiu nossas vidas. Enlaçou nossos
corpos. O amor nos embala à vida.
domingo, 31 de julho de 2016
(...)
Queria escrever um texto sobre aquele filme que
vimos. O descompasso das relações até a ruptura. Mas, passou. Conversamos horas
sobre. Dias. E o sentimento ainda estava lá. Não consigo desconectar daquilo
que causa impacto em mim. Como se revivesse aquele sentimento a cada segundo. Ressuscitasse
a situação a cada instante. E assim é com tudo. Amor. Dor. Felicidade.
Tristeza. Quando algo acontece, acontece. É real. O sentimento fica. Dias. Fico
sentindo... as palavras ecoando no ar. Arrepio no braço. Frio na barriga. Fecho
os olhos. Rodopio por dentro e boom! Lá está acontecendo novamente. Sou
solidária aos sentimentos alheios. A dor. A tristeza. O amor. A alegria. Me
comovem. Há entendimento. Há entendimento assinalado. E um sentimento extremado.
Que não sai. Perdura. É perene. Não consigo passar ao largo do sentimento
alheio. Sem ser capturada. Sem ser conectada por ele. Há uma ligação
inexplicável. Indizível. Apenas sentida. Intimamente sentida. É muito fácil
tomar o lugar do outro. Colocar-se lá. Sim, sei exatamente como se sente. Até o
que nunca vivi. É vivido internamente. Há reciprocidade intrínseca. Que não
sai. E que me comove. E que me move. A conhecer o outro. A criar laços. E dar
nós. Que jamais serão desatados. É profundo. O que todos sentem no seu íntimo
reverbera em mim. Quanto mais íntimo. Mais ancorado. Mais universal. Sou um
mosaico de sentimentos. Um espelho. Um reflexo. As experiências alheias estão
entranhadas às minhas. Misturadas. Estão muito próximas. Que não consigo
distinguir o que é meu e o que é seu. Se foi, fomos. Se é, somos. É nosso. Os
sentimentos que experimento dão liga às relações. Estou minada pelas emoções
minhas e suas. À deriva. Saboreio os
sentimentos infiltrados em mim. Estão
incutidos. Embrenhados intimamente. E os sinto de forma desmedida. E a situação
continua renascendo a cada instante até que outra aconteça... e que tudo se
misture. Infinitamente, quantas vezes forem possíveis...
sexta-feira, 22 de julho de 2016
Réquiem à Amy
O entardecer é tão perturbador. Não é dia. Nem
noite. É a transição. Entre um e outro. E aí posso sentir toda a angústia. A
angústia em seus olhos. Seu corpo magro. Delicado. Frágil. Sim, era muito
pesado. Você não suportaria. Também não suporto. Ainda continua pesado com a
sua partida. A angústia deixa tudo confuso. É preciso ter clareza para
enxergar. Mas, a angústia não permite. Ela embaça. Como vidro de carro em dia
de chuva forte. É preciso ter olhos atentos. Mas, às vezes, não queremos. A
realidade dói. E não sabemos como lidar com a dor. É uma aflição. Uma agonia.
Muitas vezes, preferimos ter lentes embaçadas. Dói menos. Não queria gostar de
você. Era muito óbvio. Que você iria se despedaçar a qualquer momento. Invejava
sua coragem covarde. No fundo, no fundo, sabia. Sempre soube. Que iria amá-la e
odiá-la na mesma proporção. Nosso medo da realidade nos aproximava. E nos
distanciava. Vamos avante. Desistir é covardia. É preciso muita coragem para
desistir antes de chegar lá. Aprendi que muitos sentimentos vêm disfarçados de
amor. Seus berros eram ensurdecedores. Com vendas não enxergávamos. Uma vida de
provações. Pathos é enlouquecedor. Enlouquecidas somos. Não são esquisitices.
São sentimentos que se encontram e extravasam. Que lá fora causam
estranhamento. Ser feliz é desconfortável. Como poderia defendê-la daquelas
lentes tão brilhantes. Que não permitiam que enxergasse? Que turvavam a
realidade? Como nos defender daquela violência. Uma simples fotografia é tão
obscena. E todos aqueles comentários. Interpretações tolas. Deduções. Como
escapulir daquilo? Como escapar da lucidez? Qual seu escape? A realidade é tão
insossa. A fantasia é sedutora. Experimentar a liberdade. Pode nos deixar
desnorteadas. Desesperadas. Ávidas por mais. Pode ser viciante... daí começamos
a nos flagelar. Mas, quis arrancá-la dali. Tínhamos uma percepção tão profunda
e íntima. Respeitei. Acatei até que... fiquei muda. Quem vai gritar nossa dor?
Ray? Sarah? Mr. Hathaway? Frank? Às
vezes, a morte faz mais sentido que a vida. Estamos sempre morrendo um pouco a
cada dia. Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.
P.S.: Para terminar esse texto tive o auxílio luxuoso do Poeta Lindo, obrigada!
terça-feira, 12 de julho de 2016
Banzeada...
Porque sinto saudades da minha terra. Aqui é perto.
Mas, não tão perto. E não estou lá. A distância cultural é um abismo. O jeito
de se dar. De falar. De caminhar. O comportamento. É um país. Sou de outro
país. Me sinto estrangeira. Meu olhar de estrangeira. Meu olhar de
estranhamento. Muitas vezes tenta ser o olhar de compreensão. De entendimento.
Mas, há dias como hoje... que não tem jeito. A saudade pula em meu peito.
Grita. Sou de lá. É perto, mas é distante. Não posso ir lá dar um mergulho no
mar... o mar! Saudades de virar a esquina e ver o mar. De fazer o trajeto pela
orla. E ver a onda arrebentar na praia... derrubar surfistas. Sentir o cheiro
de mar arder o nariz de tão forte, tão forte... lacrimejar os olhos. E tem o
acarajé também. Mesmo não comendo todos os dias, mas está lá. À disposição. Tem
o Rio Vermelho que várias pessoas se encontram. É o esquente para o que vem
depois e se não vier, sem problemas. Fica ali mesmo. Na boa. De boas. Ô garçom,
na moral, dê um grau aqui na mesa. É como falamos. É nosso sotaque. É nosso
sorriso. E tem o trânsito também. Diferente. Outra dinâmica. Tem a cidade que
por si só tem outro desenho. É Alta. É Baixa. É Meeira. Tem ladeiras. Becos.
Vielas. O calor humano é diferente. É outra densidade. É mais misturado. É heterogêneo.
É plural. Busco aqui alguma relação, mas a cidade teimar em se distanciar. Tem
uma ojeriza gritante. É uma pena... só ganharíamos. Minha cidade tem um ritmo
diferente. Pulsamos em outra batida. Temos mais cor. Nos mostramos mais. Damos
mais visibilidade ao nosso corpo. A nossa cor. E tudo que ela tem. Tem a
cultura forte. As músicas que exaltam à terra. Como se a todo momento
tivéssemos que celebrar por sermos da terra. Mesmo quando não temos motivos
para celebrar. Mesmo quando temos motivos para sermos tristes. A música está
lá. Vibrando. Exaltando à terra. Nossa cor. E nossa condição. Temos uma
irmandade inexplicável. Nem sabemos quem é, mas se é da Bahia... é nosso. É um
outro olhar. Temos orgulho. Acreditamos. Festejamos. Vibramos. É a forma de se
dar. De se apresentar para o mundo. De se inserir. De fazer parte. E de
interagir com ele. O mundo é feito por nós. É bem isso. Ou não também.
Tenho certeza de nada. Tirando a saudades que sinto... tudo parece muito
frágil.
quinta-feira, 30 de junho de 2016
(...)
Reconheço as potências sutis da vida em seus
olhos verde-esperança. As dúvidas. Incertezas. Inseguranças... foram
desembaraçadas com você ao meu lado. Acredito no processo até chegar ao
produto. Mas, se não chegarmos tudo bem... a caminhada ao seu lado vale a pena.
Valorizamos cada passo. Comemoramos cada vitória. Pequenas. Grandes. Celebramos
à vida. Somos uma festa. Valorizamos o aprendizado diário. Sabemos pouco da
vida. E buscamos aprender mais. É um aprendizado contínuo. Não paramos de nos
conhecer. De admirar. De falar o que gostamos. O que desperta um outro olhar.
Sua mão tateando no vão do ar até encontrar a minha, enquanto assistimos TV. Ficar em casa com você é um luxo. Você
cozinha. Ajeito a casa. Nos tocamos a cada esbarrão. A cada tropeço um beijo.
Me divirto. Nos divertimos. Somos uma festa. Seu olhar em mim transborda luz em
meus poros. Ilumina. Transcende. Seguimos o fluxo da vida. Temos o tempo
conspirando a nosso favor. Temos um amor atemporal. E ainda tem ele. Sua
extensão. A emoção me toma, quando reconheço seu gesto nele. É uma lindeza
vê-lo dançar. Fica gigante no palco. Quando ele senta tão ao meu lado que
divide minha perna. Somos uma festa. É amor. É paz no coração. É tranquilidade
na alma. É sentir tudo isso todos os dias. O amor me alarga por dentro. Faz
crescer. A felicidade me emociona. E já fica difícil escrever com lágrimas nos
olhos. As teclas boiam...
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