sexta-feira, 22 de julho de 2016

Réquiem à Amy



O entardecer é tão perturbador. Não é dia. Nem noite. É a transição. Entre um e outro. E aí posso sentir toda a angústia. A angústia em seus olhos. Seu corpo magro. Delicado. Frágil. Sim, era muito pesado. Você não suportaria. Também não suporto. Ainda continua pesado com a sua partida. A angústia deixa tudo confuso. É preciso ter clareza para enxergar. Mas, a angústia não permite. Ela embaça. Como vidro de carro em dia de chuva forte. É preciso ter olhos atentos. Mas, às vezes, não queremos. A realidade dói. E não sabemos como lidar com a dor. É uma aflição. Uma agonia. Muitas vezes, preferimos ter lentes embaçadas. Dói menos. Não queria gostar de você. Era muito óbvio. Que você iria se despedaçar a qualquer momento. Invejava sua coragem covarde. No fundo, no fundo, sabia. Sempre soube. Que iria amá-la e odiá-la na mesma proporção. Nosso medo da realidade nos aproximava. E nos distanciava. Vamos avante. Desistir é covardia. É preciso muita coragem para desistir antes de chegar lá. Aprendi que muitos sentimentos vêm disfarçados de amor. Seus berros eram ensurdecedores. Com vendas não enxergávamos. Uma vida de provações. Pathos é enlouquecedor. Enlouquecidas somos. Não são esquisitices. São sentimentos que se encontram e extravasam. Que lá fora causam estranhamento. Ser feliz é desconfortável. Como poderia defendê-la daquelas lentes tão brilhantes. Que não permitiam que enxergasse? Que turvavam a realidade? Como nos defender daquela violência. Uma simples fotografia é tão obscena. E todos aqueles comentários. Interpretações tolas. Deduções. Como escapulir daquilo? Como escapar da lucidez? Qual seu escape? A realidade é tão insossa. A fantasia é sedutora. Experimentar a liberdade. Pode nos deixar desnorteadas. Desesperadas. Ávidas por mais. Pode ser viciante... daí começamos a nos flagelar. Mas, quis arrancá-la dali. Tínhamos uma percepção tão profunda e íntima. Respeitei. Acatei até que... fiquei muda. Quem vai gritar nossa dor? Ray? Sarah? Mr. Hathaway? Frank? Às vezes, a morte faz mais sentido que a vida. Estamos sempre morrendo um pouco a cada dia. Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos.




P.S.: Para terminar esse texto tive o auxílio luxuoso do Poeta Lindo, obrigada!


Um comentário:

Pedro Laurentino disse...

Adorei participar, adorei ler em primeira mão, adorei o texto! Amy é um pouco da nossa própria juventude, essa energia que se perde massacrada pela vida. A vida bate, diz o poeta. A vida bate forte, mas por enquanto é tempo de morangos! Beijo, Dinda!