sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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A palavra madura em minha boca pesa e pede para sair. Pede para sair com a urgência de quem nasce pré-maturo. Ela quer sair para ganhar o mundo. Quer sair para não ser devorada por mim. Se devorar essa palavra que pesa em minha boca. Somente eu sentirei a sua plenitude. Mas, se colocá-la para fora ela ganhará amplidão. A palavra madura pesa em minha boca e faz engasgar. Falta o ar. Não sei como dizê-la. Se é que posso. A palavra é demais para mim. Seria egoísmo possuí-la tão somente só. Reparto em infinitas sílabas para alimentar aqueles que têm fome dela. É preciso sentir a palavra, degustá-la letra por letra e quando sentir o peso repartir com outra pessoa. Outra pessoa que necessite dela tão quanto você. No fundo sou mesmo egoísta. Porque divido a palavra para que você possa sentir o que sinto. E ter sentimentos comuns a mim. O meu ego continua inflado e intocável, porque pinto de azul a sua madrugada. Em suas noites insones você devora as minhas palavras como quem me devora. Durmo um sono intranqüilo. Você consome a mim. Devora-me lentamente. Sinta cada palavra como um sussurro em seu ouvido. E quando elas te acolherem estarei te abarcando no frio azul da madrugada. Sou sua companheira a esperar um novo dia. Insones eu, você, a madrugada, São Jorge, a lua e as nossas palavras. E quando o astro rei nasce revelando as cores da vida. Nós nos esconderemos. Porque temos uma vida secreta na madrugada. Despeço-me de você com um beijo pesando na boca que precisa ser beijado.

5 comentários:

Amanda Julieta disse...

A honra toda começa por abrir seus comentários. Depois, poder lhe dizer que esse texto-poesia foi uma das coisas mais lindas que já li na minha vida. E saber-me canibal, também devoradora de ti.
Poetíssima, agora você roubou minhas palavras e meu egoísmo, mostrando-me o prazer da plenitude.

Lindíssimo!

Beijos,
A.

Pedro Laurentino disse...

está apalavrado!

lindo e sutil como você!

Amanda disse...

Li de novo e de novo. Fiquei ansiosa para comentar de novo, com esses seus olhos pintados servindo de plano de fundo. O beijo caiu como ambrosia, coisa de deuses, sagrado. E agora a madrugada nem é mais azul - porque todas as cores do arco-íris estão se confundindo em mim. Sabe aquela coisa de pintar um arco na íris dos meus olhos? É bem assim. E aquela história do veneno também não é mentira, suas palavras são letais.
Veneno ou feitiço?
Quem devora quem nesse jogo lânguido de palavras?
Meu comentário, de tão grande, vai concorrer a postagem!(risos)
Mas tinha esse grito aqui dentro e eu não poderia calar.
Não se esconda mais, Poetíssima, não se esconda...

Beijos e beijos de tua espiã,
A.

Maria disse...

Se for egoísmo pintar de azul a madrugada, devo reconhecer que é um lindo egoísmo. E terno, e doce...

um beijo, minha querida poetinha.

^^

Empoemamento disse...

Sim, a madrugada está intranquila...


Uma pitada de azul não vai nada Mal.

Nos dê uma ponta de egoísmo,pq nem isso temos!


Beijos vermelhos,