
Eu sou, angustiadamente, feliz, porque vivo numa eterna infelicidade. Não sinta piedade de mim, não sinta. Eu sinto piedade da sua ilusão sobre felicidade. Porque, meu bem, só as almas infelizes podem gozar plenamente da felicidade. E eu sou, excessivamente, infeliz. Sinto a infelicidade amolecer minha alma e adoecer meu corpo. Mas o que é um corpo, meu bem? Meu corpo nada mais é que uma casa temporária para a tristeza apresentar-se. E a tristeza apresenta-se em sorriso que não distribuo. Em abraço que não abraço. Em olhar melancólico que lanço sobre todos. Pelas minhas mãos trêmulas. E pelas minhas palavras amargas que dissecam tristeza. Eu sou feliz, acredite! Eu acredito, porque não posso viver em dúvida. Minha alma já possui o desespero necessário. Viver em dúvida, viver na incerteza é demais para uma alma angustiada. Meu coração possui dois pólos. Um feliz. Um infeliz. E ao meio. Ali bem no centro do peito essas emoções encontram-se. Bipolar que sou, vivo numa felicidade angustiada. Todo sorriso culmina em lágrima. E toda lágrima culmina em sorriso. E assim vivo. No fundo da tristeza tiro um sorriso. E em cada gargalhada vou às lágrimas. E assim sou. Feliz e infeliz. Sou um ser tragicômico a procura do drama perfeito para desesperar meu peito.