quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O que sinto...

O sentimento que trago no peito e que trago em doses lentas todas as manhãs é desconhecido. Eu não sei o que sinto. É indescritível. Por mais que eu tente escrevê-lo e descrevê-lo não consigo. O meu discurso torna-se vazio quando não consigo expressar o que sinto. O sentimento é a mola do ser humano. É o sentimento que o eleva. É o sentimento que o desespera. Se eu não sei o que sinto me componho de vazio. Às vezes acho que quero impor limites. Definir o que sinto é limitá-lo, o que sinto é tão vasto que me devasta por inteiro, porque eu inteira sou sentimento. Isso que estou dizendo sobre sentimento já foi dito. Eu o repito, porque minha repetição revela algo de novo mesmo quando reforça uma idéia anterior. Eu digo o que estou dizendo, mas que outras pessoas já disseram. Esse texto é o meu jeito de (re) escrever essas coisas que já foram ditas. Por isso me repito, pois o que revelo é novo. Novo e diferente. Eu não sinto, aliás, sinto, mas não sei dizer o que é. O sentimento que tenho em mim é avassalador e eu quero abarcá-lo. É algo novo, mas às vezes tenho a impressão que ele já foi sentido antes. Os sentimentos se repetem sim, apenas se vestem de outra maneira para que possamos achá-los inédito. Estamos sempre buscando estréias. E com isso nos repetimos o tempo inteiro. Como eu nesse texto. Eu apenas penso que aquilo que digo é inédito e que é a idéia mais original e única. Mas no fundo do texto eu sei que me repito a cada palavra. E repito tudo o que já disseram antes. A mulher se fez verbo antes de mim. Meu discurso inédito, já se repetiu antes mesmo d’eu me fazer verbo. Não saber o que sinto, me aflige. Me sinto perdida. Sem lugar. Eu não pertenço ao meu lugar. Não pertenço a ele, porque me perdi diante de tudo que sinto. O que sinto me devasta, perfura-me a alma. E logo eu que sou tão casta, tenho minha alma devastada por algo que eu nem sei descrever. Só consigo sentir. Sinto o sentimento meu. Gosto de me colocar no lugar do outro para sentir o que ele sente. E assim sentir mais e quanto mais eu sinto, mais perdida me torno. Minha alma sente um sentimento profundo perfurando-a duplamente. Eu apenas quero dizer isso, mesmo que isso já tenha se revelado. Esse meu texto é uma conversa minha. No momento em que ele está aqui não me pertence mais, pertence a você a sua leitura. A partir dele você escreve o seu texto. Eu queria somente contar a você tudo isso que estou escrevendo, mesmo que você já saiba de tudo. Esse texto é uma conversa de mim para você. O meu discurso monólogo é um desdobramento de mim para ti. E a partir desse momento, esse vasto texto perdido entre tantos sentimentos não me pertence mais... assim talvez como aquilo que eu nem sei o que sinto...

5 comentários:

Pedro Laurentino disse...

Abrir o peito e sentir, ter consciência de sentir. É meio Fernando Pessoa: "por trás dos olhos, vejo-me vendo", mas sem escurecer o sol e envelhecer as árvores. Deus te conserve Poeta!

E o sorvete?????
E o estrogonofe?????

Anônimo disse...

O sentimento é a linguagem que o coração usa quando precisa mandar algum recado. - Mário Prata

O que há em nosso coração é infinito...bjssss Gigante...!!!!!!!!!

Glayce Santos disse...

Uau! AMEI! "O sentimento que tenho em mim é avassalador e eu quero abarcá-lo. É algo novo, mas às vezes tenho a impressão que ele já foi sentido antes" Isso é tudo! Dá um certo desespero, sentir que está sentindo algo com intensidade parecida com o ontem....e saber que o ontem não deu certo, fez sofrer! Gostei muito desse texto! Me identifiquei bastante! SHOW!

Obrigada pela visita, vc é sempre bem-vinda!

Beijos

Pedro Laurentino disse...

mais mais mais!

Anônimo disse...

"Os sentimentos se repetem sim, apenas se vestem de outra maneira para que possamos achá-los inédito. Estamos sempre buscando estréias. E com isso nos repetimos o tempo inteiro."

"...A mulher se fez verbo antes de mim..."


E eu só posso dizer-te: Puta que Pariu! Puta que Pariu mesmo!


Que lindo!

Não tem jeito, já que todo mundo se repete, você que é poeta e linda se repete, eu vou me dar o direito de me repetir também, mas sempre tentando ser inedita e original:

NÓS AMAMOS VOCÊ!

Beijos avassaladores e vermelhos, meus e de ChicO!

Que poeta, que verbo, que tudo!