sexta-feira, 25 de maio de 2012

O Cheiro da lembrança...




Quando desço a ladeira da casa de minha vó, sinto o cheiro da infância. O muro que pulava de dentro para fora. A cama macia do cochilo da tarde. Me vejo em pé no sofá, penteando seus cabelos grisalhos. Sob o olhar reservado do vovô. Tomo banho de mangueira no quintal. A maior farra com meus irmãos e primos. Os olhares atentos dos meus pais e tios. E a gargalhada no eterno cochicho de meu irmão. O almoço era sempre tarde. Meu prato preferido era omelete, não importa o que tivesse, sempre queria comer omelete. O lanche quase emendava com a comida. Meus irmãos, primos e eu éramos cúmplices. Nosso entendimento era pelo olhar. Tudo era motivo de riso e confusão. O dengo terno no colo da dinda. O chamego eterno nos braços do meu pai. E o conforto no sorriso de minha mãe. Enquanto corria pela casa, desviando das pernas adultas. A pressa só era interrompida quando ouvia, como ela está crescida! A gargalhada era fatal. Apesar de o meu ouvido temer esses tipos de comentários. Meu olhar sempre foi atento, apesar de parecer boiar na paisagem. Meu sorriso sempre foi fácil... Até endurecer. Vez e outra essas lembranças invadem meu coração. Transbordam emoções pelos olhos. Hoje, continuo, descendo a ladeira da casa de minha vó, sentindo o cheiro de mungunzá que só ela sabe fazer. No entardecer tomo seu café fraco e ouço sua voz falando, A vida é difícil, minha filha, mas tudo passa. Queria deitar em seu colo, encolhida para caber, sentir seu cafuné e adormecer nesse dengo... E no outro dia quando acordasse as dificuldades já estariam no passado...

9 comentários:

Amanda disse...

Lindo como sempre, Liliam!
Como seria bom se um simples gesto de vó/mãe resumisse os problemas em lembranças distantes!

Ingrid disse...

Liu, pensei em várias coisas para escrever, mas, ao contrário de você, sou péssima escrevendo(um encosto cheio de breguice me persegue! rsrsrs).Então serei breve: simplesmente lindo o seu texto! Amei!

Maria Midlej disse...

Até me deu uma saudade de lá...rs

Anônimo disse...

"A vida é difícil, minha filha, mas tudo passa." lindo.. sempre por aqui.. beijo..

Letícia Giraldelli disse...

Essas nostalgias são tão sinceras e gostosas!
Me sinto assim também quando me pego para lembrar do passado.. Da época em que a responsabilidade era tomar banho na hora certa! hahaha

Um beijo!

Amanda Julieta disse...

que delícia poder sentir as suas lembranças, um sorriso brotando no rosto com tanta delicadeza.
já faz tempo que não venho aqui, já faz tempo que eu não bebo dessa sua poesia crua e certeira, desses olhos no canto da página que tanto me enfeitiçam e que agora, para o meu espanto, não existem mais.

vamos, poetinha, deixa o copo ali em cima e prepara os cabelos, que lá vem carinhos. amanhã, quando você acordar, só restará uma certeza: tudo passa.

# Poetíssima Prida disse...

me fez viajar...

Antônio LaCarne disse...

lindo texto, sensibilidade q encanta. ;)

Anônimo disse...

Lindo, amei! Delícia de texto, aquece o coração, lembranças gostosas, saudades que traz a memória felicidade e amor! Obrigada por sua generosidade em compartilhar!