Eu abracei você, apenas. Mas gostaria de falar para você chorar. Chorar mais e mais. Até sentir que não há mais lágrimas. Até sentir que a fonte secou. E mesmo sem saber o motivo do choro. Pediria que você chorasse em meu ombro. E molhasse toda a minha roupa. Para que eu também pudesse sentir o seu choro. E sentir desaguar em mim as lágrimas que saíam de ti. Misturar suas lágrimas com as minhas até não poder saber quem seria a dona. Chorar suas lágrimas e senti-las como se fos
sem minhas. Chorar por você e por mim. Chorar é um exercício, por isso, suamos quando choramos. Devo confessar, ou melhor, compartilhar: eu choro para sentir! Choro para sentir-me. Somente para sentir que sou. Às vezes fico agoniada para parar de chorar, mas não consigo parar. Chuva torrencial de lágrimas sai dos meus olhos. Não me sinto triste quando choro. Não há tristeza em chorar. Sim, às vezes há. Mas nesses dias de choro por lágrimas por sentimentos não há tristeza. Choro para aliviar. Choro para lavar. Lavar o que há muito tempo estava nublado. É um choro de chuva de inverno em mim. Não é chorar por chorar. É chorar para desaguar. Chorar com vontade e sentir-se impotente diante dessa necessidade. Alguns choram por amor. Eu já chorei! Muitos pela dor. Eu já chorei! E por tantos motivos. Eu choro por mim. Pelo desconhecido. Choro pela ausência. É um desmoronamento de dentro para fora. Às vezes essa explosão de lágrimas ocorre por um motivo bobo. Bobo para os outros que nada sabem sobre minhas lágrimas internas. O bobo na verdade é o que faltava para o transbordamento. Eu choro, porque sou forte. Se fosse frágil me esconderia. E fingiria nada sentir. Sou verdadeira. Sensível. E choro até sentir o sentimento adormecer dentro de mim. Chorar para sentir-me renascer. Reconstruir-me. E assim ser forte. Inteira. E voltar a ser rochedo.
