... Cortaram o fio. O poema perdeu-se. Rima
rica minha. Era tão meu. Inerente a mim. Éramos possuídos... Desde o principio
ou não, mas me pertenceu do início a interrupção. E foi tomado de mim. De forma
brusca. Inesperada. Violentamente. Um aborto. Não espontâneo. Doloroso. Foi
estranho descobrir isso após a perda. O óbvio muitas vezes foge da vista. Meus olhos boiam na lembrança. Companheiro
de aflição. Devaneios. Sonhos. Marcado pelo ir e vir. Traços de
criação. Tudo escrito a lápis.
Ponta fina. Ponta grossa. Ponta por fazer. Inquietações. Experimentações. Textos interrompidos. Outros finalizados.
E um bocado de frases soltas. Ideias frescas. Que nunca amadurecerão. Palavras inquietas. E o que fazer com o preenchimento que fora roubado de mim? Estou pela
metade. Perdida no caos. E essa incompletude que perpetuava à escrita. Permeava
a busca. Afligia noites insones. Essa sede que me fazia buscar água. E muitas
vezes não bebê-la para continuar buscando. Sentir o corpo ansiar. Vibrar pelo
desejo. Exaustão. Escrever é ser sempre incompleto. Mesmo após um poema
escrito. O vazio invade e fim. Permanece. Se a escrita é perene, o vazio também
o é. Escrever é um ato incansavelmente de incompletude. E essa é a minha sede.
Completar-me. Não há prêmios. Best-sellers. Que cessem a sede de quem escreve. Levaram
minhas palavras... Tão minhas. Ali escritas. Pensadas. Pesadas. Amadurecidas.
Alinhavadas. Conectadas. Escritas. Perdidas. No tempo e espaço. Minhas palavras por aí... Quem está
lendo? Devastando minha devastação? Andando em meu deserto com olhos gulosos?
Curiosos sem fim? Será inconcluso também? O que pensará? Meus pedaços de mim. Penso inconcluso. Destroçada
de mim. Desabitada. Oca. Escrever é ser sempre vago...
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
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